Aos 13 de fevereiro tem início o tempo da Quaresma, que tem seu termo final no domingo de Páscoa 31/03. É este o período mais santo do ano ou, como dizem os mestres de espiritualidade, o período-padrão da vida cristã. Com efeito, esta consiste em viver o Batismo e a Eucaristia, ou seja, em participar da morte de Cristo para o pecado e da ressurreição do Senhor para uma vida nova: o cristão se transfere diariamente do velho homem para o homem novo (cf. Ef 4,22-24; 2Cor 5,17) até estar plenamente configurado a Cristo no dia em que seu corpo for ressuscitado à semelhança do corpo de Jesus (cf. Fl 3,20s). Ora, o tempo da Quaresma põe ante os olhos do cristão este programa de modo muito enfático, convidando-o a associar a sua cruz cotidiana à cruz gloriosa do Senhor Jesus.
Quaresma assim entendida é “tempo oportuno” (2Cor 6,2), é graça especial de Deus, que espera dos seus fiéis uma conversão cada vez mais coerente. Aliás, as Escrituras se referem não raro à paciência de Deus, que concede aos homens novos e novos prazos para que realizem mais radicalmente a sua conversão tantas vezes adiada ou superficialmente praticada: “desprezas a riqueza da sua bondade, paciência e longanimidade, desconhecendo que a benignidade de Deus te convida à conversão?” (Rm 2,4; cf. 3,26; 2Pd 3,9). Considerando isto, o escritor cristão Tertuliano († 220 aproximadamente) dizia que Deus é o Modelo da paciência; é o Pai que mais sabe pacientar em relação a seus filhos.
O chamado à conversão ressoa neste ano num mundo agitado e inseguro. Que remédio lhe poderão levar os cristãos? – Sem dúvida, os recursos de ciência e técnica que possui… Mas muito mais ainda: mais do que de qualquer outra coisa, o mundo precisa de santidade e de santos (cf. 2Pd 3,11s); este é o grande tesouro da humanidade, tesouro que é remédio para os males mais profundos. “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”, dizia sabiamente Elizabeth Leseur. Dez justos teriam obtido a salvação de Sodoma e Gomorra, conforme Gn 18,22s. Ora Deus também hoje procura “dez justos” num mundo que Ele quer salvar.
Os fiéis católicos não podem deixar de perceber esse apelo… Apelo a que reflitam sobre a sua responsabilidade e assumam generosamente a sua vocação à santidade… Santidade que não é outra coisa senão a arte de saber dizer um Sim pronto e magnânimo a todos os sinais da vontade de Deus. “Se fizeres isto, serás salvo… e terás a alegria de, por graça de Cristo, salvar muitos irmãos!”
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 285, Fevereiro/1986.